quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

História dos nossos escritores


LITERATURA

É Hora de Clarice. E de recuperar a memória de nossos artistas

Neste sábado, dia 10, quando a escritora faria 91 anos, há vários eventos programados. Para sorte dos brasileiros, esse tipo de homenagem vem ganhando força nos últimos tempos. Por Solange Noronha.


10/12/2011 | Enviar | Imprimir | Comentários: 10 | A A A
Este ano, tivemos a criação do Dia D, para celebrar Carlos Drummond de Andrade, e da Hora de Clarice (Lispector) — neste sábado, dia 10, com programação em, pelo menos, sete capitais. Temos também celebrações de centenários importantes, como os de Mário Lago e Nelson Rodrigues. Lembramos de Otto Lara Resende — com o relançamento de sua obra e palestra dos jornalistas Humberto Werneck e Wilson Figueiredo — a Celly Campello — que mereceu caixa com seis CDs — passando por Ednei Giovenazzi — homenageado com prêmio pelo conjunto da obra na recente Festa Internacional de Teatro de Angra (Fita), um dos mais importantes festivais da área no país.
Otto Lara Resende teve obra relançada em 2011
Muita gente pode nunca ter ouvido falar de alguns nomes citados acima, mas iniciativas como as do Instituto Moreira Salles — que recupera acervos preciosos e promove eventos culturais constantemente — e da Imprensa Oficial de São Paulo — com sua coleção Aplauso, de biografias e histórias de patrimônios como a TV Tupi (disponível também na internet, em http://aplauso.imprensaoficial.com.br/) — têm se encarregado de aproximar os brasileiros de seu passado em todas as artes. Sérgio Fonta, autor de “Rubens Corrêa — Um salto para dentro da luz”, vê com otimismo esse movimento: “O Brasil tinha memória curta, mas isso vem mudando. Parece que há uma onda de conscientização sobre a importância da memória. E ela é importante mesmo”, frisa o escritor.
Não há futuro sem passado
Capa do livro “Rubens Corrêa — Um salto para dentro da luz”
Ator de teatro e TV, além de autor teatral, Sérgio Fonta diz: “Quando um país cultua a sua memória, ele cresce, pois não se escreve o futuro sem o passado. Precisamos lembrar nossos ícones, estejam eles nas Artes, na Ciência, na História, em qualquer canal do pensamento. Um resgate como o da Aplauso tem valor inestimável. Muitos nomes de inegável qualidade que estão na coleção talvez desaparecessem no túnel do tempo. Mas, ali, estão de novo vivos e para sempre. Nas noites de autógrafos em várias cidades, vi o grande Rubens Corrêa renascer e ocupar o lugar de destaque que lhe é devido na memória nacional.”
Eloy Araújo — que iniciou a carreira como ator e escritor de novelas e tornou-se autor de peças de sucesso, entre as quais “Tango, bolero e cha-cha-chá” — também considera importante cultuar a cultura: “Célebre vem do latim, aquele que é ilustre, notável. Celebração, portanto, é o ritual para aquilo, ou aquele que se destacou na nossa existência. Não podemos perder a memória dos notáveis da nossa vida, daqueles que, em determinado momento, contribuíram para a humanidade no que ela tem de melhor, estimulando cada um a fazer o mesmo e dar o melhor de si.”
Modo de lembrar
Minisséries e novelas em torno de figuras às vezes esquecidas ou baseadas em obras literárias servem igualmente a esse propósito. A volta ao mercado dos livros de Orígenes Lessa, por exemplo, pode fazê-lo chegar ao conhecimento de gente que só se lembrava dele pela versão da Rede Globo para “O feijão e o sonho” — ou nem isso. Retrospectivas, premiações, reedições, espetáculos, dias festivos — toda maneira de lembrar vale a pena.
E que sejam homenageados não apenas os “protagonistas”, mas também os “coadjuvantes”, em todas as artes. Isto, claro, com um pouco mais de discernimento do que demonstram alguns de nossos políticos. Alguém tem acompanhado os disparates da Alerj na criação de datas comemorativas e na distribuição da Medalha Pedro Ernesto e do título de Cidadão Honorário da Cidade do Rio de Janeiro?
Caro leitor,

O que mais você acha que poderia ajudar na recuperação da memória nacional? Tem alguma sugestão?

Como você vê a criação, não oficial, de datas para celebrar figuras importantes da nossa cultura?

O que pensa das homenagens oficiais, que contemplam interesses particulares dos políticos, celebridades forjadas em “reality shows” e até policiais corruptos?